A derrocada de Dilma
Os últimos dias confirmaram a absoluta incapacidade da presidente em governar. Depois de estimular o neo-desenvolvimentismo de Barbosa, ministro do planejamento, pressionada pelo Bradesco e por grandes empresários, Dilma voltou atrás e prestigiou Levy. O problema da presidente é que vacila mesmo no vacilo. Assim, avisou que cortaria gastos, mas logo depois disse que já cortara o possível. Imprensada, fala em cortar miudezas, através da diminuição do número de ministérios e outras bobagens (do ponto de vista das despesas).
Em um dia, Mercadante sai. No outro, Mercadante fica.
Ninguém confia na presidente.
Por isso mesmo as expectativas inflacionárias voltaram a subir. E as expectativas sobre o PIB voltaram a cair.
A crise econômica não é uma mera questão contábil. Há uma crise de confiança. Dilma nada fez para que a confiança - de todos, mas dos empresários em particular - aumentasse.
Soa o alarme também no TCU, onde a maioria parece inclinar-se de novo para a rejeição das contas da presidente.
A miopia dos campos ideológicos
Crise de confiança. Crise de hegemonia política. De tal ordem que, como já observamos, grandes empresários tiveram de intervir diretamente na cena política. Alguns com preocupações de ordem geral. Outros, apenas pelos interesses corporativos.
Os movimentos sociais, por outro lado, sentem que a barra está pesando e esperneiam. O que poderia ajudar uma redefinição de rumos do governo.
Mas as representações ideológicas e políticas estão bem abaixo das classes e setores sociais que representam.
Levy e consortes tratam de lutar contra a inflação alta. Com as receitas de Chicago embaixo do braço, partiram para o pau. Mas embora defendam algumas medidas justas - como o reequilíbrio das contas primárias -, no conjunto, terminam prejudicando o equilíbrio.
Vejamos pela necessidade de diminuía relação dívida líquida/PIB: consideram que esta relação aumentou em demasia, e trata-se de levá-la de volta a uns 35% (hoje está por volta de 60%). Mas a política de aumento de juros leva ao aumento da dívida. A política dos swaps efetuada pelo BC também.
Levy e sua turma enxugam gelo, no mínimo.
Os neo-desenvolvimentistas querem lutar contra a recessão. Mais de uma vez acusam Levy injustamente de ser o responsável por ela. Como sabemos, a recessão foi causada basicamente pelo primeiro governo Dilma. O ajuste de Levy vai reforçar a recessão, mas não lhe cabe a responsabilidade por ela.
Mas, dada a premissa, a resposta dos neo-desenvolvimentistas é imediata: crescimento econômico! Alguns querem até que o Estado se endivide mais. Pé no acelerador. Mas, ora, se foi tudo que a Dilma fez no primeiro governo e deu no que deu...
Crescer é um objetivo, mas não é o meio de sair da crise.
A miopia dos campos políticos
Embora o PMDB tenha um grande peso, não polariza. A direita se polariza pelo PSDB, e a esquerda pelo PT (embora este efetivamente não seja mais de esquerda).
A atuação do PT é muito ruim. Depois de votar a favor de emendas contra os direitos dos trabalhadores, passou a boicotar Levy e a falar que a economia tem que crescer. Fala em golpe e ajuda a atacar o governo. Manipula movimentos sociais.
Nesta semana, o próprio Lula adotou o tom neo-desenvolvimentista, que recusou em quase todo o seu primeiro governo. Acossado, vendo o governo se esfarinhar, tenta dizer que não tem nada a ver com isso. É mais ou menos a posição que seu partido adota. Não tem nada a ver com nada. Um partido que só pensa em sobreviver, jogando inclusive seu antigo homem-forte às feras no caso da Lava-jato.
Se o PT é triste, o PSDB é ridículo. Seus dirigentes não pensam no Brasil, mas em ter o governo a qualquer custo. Depois de votarem contra o ajuste que defenderam em todo o ano de 2014, assustaram-se quando Temer se colocou como salvador da pátria, renegaram o impeachment e pediram eleições. Por medo de Temer assumir.
O PSDB não queria o impeachment, queria ganhar a eleição que perdeu.
Depois de levar umas broncas dos grandes empresários, voltou a defender o afastamento da presidente.
PT, PMDB, PSDB não procuram solução para a crise; procuram soluções para si próprios.
A esquerda esfacelada
A esquerda não conseguiu ser alternativa em nenhum momento. Claro que é fraca, tem pouco peso. Mas nem apresentou propostas para a crise, nem mobilizou-se para ser alternativa à Dilma.
Claro que, se aparece um grande movimento e massas, a esquerda se revigora. Mas, enquanto isso, tem de propor políticas. A Ação Crítica tem dado sua contribuição. Mas este movimento tem de ser muito mais amplo.