Contra Dilma e contra a direita
O Brasil vive um momento grave. Por um lado, temos um Governo que perdeu completamente a capacidade de governar, espremido pela inépcia política, pela sua falta de credibilidade junto aos eleitores (devido ao assombroso estelionato eleitoral cometido), ao meio político (a ponto de nem a reforma ministerial que entregou tudo ao PMDB ter garantido sequer o quórum para a aprovação dos vetos presidenciais à chamada pauta-bomba do Congresso) e aos agentes econômicos, e por uma crise recessiva beirando a estagflação, agravada pelos descalabros da política fiscal do primeiro mandato, e a cegueira monetarista do segundo.
Do outro lado, temos uma oposição capitaneada pelo PSDB de Aécio Neves, que vota no Congresso contra todas as medidas que sempre defendeu (é a outra face do estelionato eleitoral), e tenta a todo custo reverter no tapetão o resultado da última eleição. Para isso, atua em duas frentes: tentando emplacar o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, e recorrendo ao TSE pela cassação dos mandatos de Dilma e Michel Temer.
A esquerda brasileira, no sentido amplo, está estilhaçada e paralisada. O que resta de esquerda no PT torce o nariz para o reajuste reacionário, mas seus parlamentares votam contra os trabalhadores no Congresso.
De um tempo pra cá, o ex-presidente Lula começa a exercitar uma retórica populista, como se isto não contradissesse tudo o que ele fez em seu primeiro mandato. Educadamente, o próprio ministro da Fazenda lembrou o oportunismo de tal conduta. E, apesar de suas falas, Lula é quem propõe acordos mais estreitos com o PMDB, para manter o governo conservador de Dilma.
Os movimentos sociais, ressalvado o aspecto mais progressista do MTST, segue a reboque do PT. O partido chora lágrimas de crocodilo, criticando o ajuste enquanto apoia o Governo. Os movimentos sociais se solidarizam, culpam Levy e não Dilma, que é quem manda. E, em seus atos, dão prioridade a uma luta contra um pretenso golpe da oposição.
A oposição grita pelo impeachment. Pelo impeachment, associou-se a Cunha, que já deveria ter perdido seu mandato, no mínimo por falta de decoro parlamentar. Diante das contundentes provas contra o deputado carioca, a oposição passou a defender que ele se afastasse da presidência da Câmara. E quem passa a negociar com Cunha? O próprio governo!
Os ventos políticos ora trazem a chance de impeachment, ora o transforam numa miragem. Estes ventos mobilizam a grande mídia, os políticos, os chamados movimentos sociais. Mas a grande massa dos oprimidos permanece quieta. Como se soubesse que tais mudanças de vento não trazem tempestades libertadoras, mas sopros conjunturais.
De fato, qual seria a diferença entre o governo Temer e o governo Dilma?
Não há quem possa ver alguma, a não ser por troca de nomes, deste ou daquele partido, nos ministérios. Dilma, Lula, Temer, Cunha, Renan, estão todos, no fundo, com a mesma política econômica. Fazem parte do mesmo sistema político, envelhecido e corrupto.
Só um vigoroso movimento de massas pode não só tirar Dilma da presidência, ainda que seja por sua renúncia, mas também mudar a correlação política em favor dos trabalhadores, permitindo uma nova política econômica e realizando reformas estruturais que tantos querem.
A presidente diz que só o voto legitima. Por isso, defendemos novas eleições. Eleições para presidente e eleições para um novo parlamento. Eleições que possam trazer uma nova Assembleia Constituinte.
Se as massas não se mexerem, o que teremos é o que já vemos: lutas por interesses inconfessáveis, fisiologismo exacerbado, judicialização da política, e uma política econômica inteiramente voltada contra os trabalhadores.
Temos grandes diferenças com o PSTU. Mas não podemos deixar de apontar seu acerto quando se levanta contra o governo e contra a direita, de forma expressa e precisa, sem titubear ou vacilar. Por isso, no dia 23 de outubro, estaremos na manifestação contra o Governo Dilma, a velha direita e o ajuste fiscal, organizada pela Plenária dos Trabalhadores em Luta, às 17 horas, na Candelária. Confira o evento no facebook: