Juizecos e Corporações
O presidente do Senado, Renan Calheiros, reclamou do juiz que mandou prender agentes da Polícia Legislativa que tinham desativado grampos em casa de senadores. Renan afirmou que não um é um “juizeco” qualquer que pode mandar a polícia para o Parlamento.
Pior do que qualquer exagero de Renan (que deve ter mesmo muito a temer em relação a grampos e juízes), foi a resposta da presidente do Supremo, Carmem Lúcia. Ela declarou:
"Todas as vezes que um juiz é agredido, eu e cada um de nós juízes é agredido. E não há a menor necessidade de, numa convivência democrática, livre e harmônica, haver qualquer tipo de questionamento que não seja nos estreitos limites da constitucionalidade e da legalidade".
Francamente, é como se o Renan dissesse que qualquer deputado agredido significaria uma agressão a todo o Parlamento. E por aí vai. Com tantos parlamentares envolvidos com corrupção, agredir um cara desses não é agressão nenhuma ao próprio Parlamento. O mesmo vale para o judiciário. Atacar um juiz que cometa um erro não pode ser considerado como uma agressão a todos os juízes e ao próprio STF. Do contrário, estaríamos todos impedidos de criticar atitudes de juízes (e, por extensão da mesma lógica, criticar parlamentares, sob risco de estar agredindo a todo o Parlamento).
O corporativismo domina nossas instituições. Carmem Lúcia, com sua declaração, não se portou como presidente do Supremo, mas como líder sindical dos juízes.