Sobre impostos e reformas
Lá vem boston...
O governo, afinal, aumentou os impostos. Foi contra sua filosofia anunciada. A FIESP protestou, mas Temer disse que era normal. E muitas vozes que denunciavam Dilma quando se falava em aumentar impostos, se calaram agora diante do absurdo.
O governo é vítima de sua própria política. Quanto mais a recessão aumenta, menos arrecada. E, vejam só, cresce o déficit público que, quando Dilma era presidente, era apresentado como o grande vilão.
Ora, o governo tem duas faces. De um lado, proíbe aumento de gastos por 20 anos e recebe o aplauso do assim chamado mercado, dos grandes rentistas do Brasil. De outro lado, apresenta um déficit enorme, que vai contra as suas normas clássicas de boa gestão. Em consequência, o governo aumenta os impostos, com que aumenta a recessão e diminui sua arrecadação.
É o liberalismo à moda do Banco de Boston. Tapado, estrito, micro. Burro.
Das contradições
Os jornais anunciam a inflação mais baixa em vinte anos. E o governo, cujo banana-chefe fala todo o dia que a crise acabou e que o Brasil entrou na rota do crescimento, toma medidas recessivas, aumentando imposto sobre combustíveis, que pega o povo brasileiro e não as elites econômicas.
Das ilusões
Em artigo no Valor, o economista-chefe do Itaú conseguiu uma façanha: falar em impostos que atinjam mais os ricos. Mais ainda, seu artigo tem um título fantástico: “Rumo a 2018, sem esquecer 2050.” Mas, finda a leitura, só nos resta a decepção. Quando o autor pensa em 2050, refere-se exclusivamente à reforma da previdência que defende com unhas e dentes.
Na ânsia de encontrar alguma coisa boa entre os escribas da imprensa oficial, destacamos que o cara fala em Imposto de Renda progressivo. Viva! Mas a lembrança é só para assegurar sua impossibilidade. O que diz o representante do Itaú: já pagamos impostos demais.
Esse é o destino de nosso povo: o IR progressivo é demais. Imposto sobre combustíveis é que seria racional.
Qualquer economista de papel sabe que aumentando o IR dos mais ricos não se aumenta a recessão. Esta é a chave da questão. Mas o governo aumenta justamente um imposto dos mais recessivos que podem existir.
Nossos bostonianos estão brincando com a vida. E, certamente, rindo dos problemas duros de nosso povo.
Das reformas
A inteligência oficial enche a boca com as reformas; nem falaremos da trabalhista. Não se trata de uma reforma, mas de uma contra-reforma: a direita vitoriosa resolve as questões nacionais sob a ótica das classes dominantes.
A grande imprensa fala do déficit da previdência. Os itautecs falam da reforma da previdência. “Está aí o déficit”, gritam, ou gemem, os articulistas.
Ora, há uma verdadeira falsificação. Respeitamos aqueles economistas que, como Gimabiaggi, há anos falam que a previdência vai nos dar problema e que uma crise virá se não tomarmos providências. Tudo bem. Mas daí a aceitar que o déficit da previdência é o responsável por todos os males, vai um grande passo.
Até 2014, a previdência urbana era superavitária. Sob o governo da populista Dilma, o déficit era causado pelas benesses que ela distribuiu a empresários. Em 2014, este deficit foi aumentado por uma dotação enorme para o FIES, com objetivos nitidamente eleitorais.
Não era a previdência que gerava déficit público e inflação.
Agora, com o país em recessão, é evidente que a previdência tem um deficit substancial, como acontece com qualquer país civilizado do mundo em recessão.
Misturar os problemas estruturais da previdência com manifestações conjunturais é uma simples desonestidade intelectual.
Em um governo de ladrões, não é de se espantar.
Reformas e reformas
As contra-reformas trabalhista e da previdência precisam ser enfrentadas com propostas efetivas de reforma. Os ex-esquerdistas do PT e outros satélites ficam simplesmente contra. Nós precisamos apresentar uma versão progressista das reformas.
O PT esteve mais de 12 anos no governo e não fez reforma nenhuma, a não ser a do sítio de Atibaia. É pouco.
É hora de a esquerda tomar juízo e ser esquerda de fato. Porque esquerda que não apresenta reforma, conserva. E virando conservadora, deixa de ser esquerda.